Hoje que Mary está indo para Paris retomo o caderno terapêutico depois
de ter dito que a minha cura era “falar tudo”, que me desse e viesse, e
assim, angustiada com a partida que me cala ou um flanco de mim, escrevo
como quem fala tudo, querendo dizer que hoje, com o Patinho, senti que o
meu compromisso primeiro era com a mãe, com as mulheres, com o colo
delas, e só secundariamente com ele, com um apelo da realidade muda.
Quero que uma mulher me acompanhe (ou ao menos o Armando, que fala tudo e
preenche o vazio). Há coisas demais para fazer, não quero ir para minha
casa, onde me sinto independente demais (é como um excesso). Volto para
a casa de mamãe, e tenho de suportar a angústia de ter que me emudecer
até a Mary voltar. Angústia é fala entupida.
[Ana Cristina Cesar]
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